Domingo á noite, sentado no sofá da sala em frente à TV, fiz o zapping mais curto da história. Isto porque, após começar na RTP1, parei logo na RTP2, colado que fiquei a ver "O Que Diz Molero", uma peça interpretada por Zé Pedro Gomes e António Feio.
Sei perfeitamente que aquilo que mais me atraíu naquele momento foi o facto de estar ali, à minha frente, a falar e a mover-se de um lado para o outro, alguém que, horas antes, tinha deixado este mundo.
Fosse este um domingo qualquer, e eu passaria pela RTP2 com a mesma velocidade com que passo pelo canal Bloomberg. Mas não era. E fiquei a ver.
Uns largos minutos depois - quando consegui descolar dos estranhamente atraentes semblantes a preto e branco - passei pela SIC e tornei a parar na TVi. Estava a dar a Conversa da Treta. E aí, sim, colei a sério! Colei e ri-me à gargalhada, sozinho, como há já muito não acontecia! Apreciei cada segundo de humor debitado por essa dupla perfeita que, como ninguém, sabia esmiuçar a essência do tuga, no estilo, nos gestos e, claro, na linguagem cacofónica. Sempre gostei da Conversa da Treta mas julgo nunca me ter dado tanto para rir como naquele momento.
E depois de uma hora praticamente seguida a rir em fartote, parei e pensei em como é injusto que as coisas sejam assim. Como somos ingratos ao deixar que, na maioria das vezes, a morte de alguém seja o único empurrão com força suficiente para nos levar a entrar na sua sala de troféus e a apreciar, aí sim, ao máximo, tudo de bom quanto essa pessoa conquistou e nos ofereceu.
Não escrevo por se tratar do António, do Manel ou do Joaquim, até porque o Feio foi um artista enorme, com dispensa a enaltecimentos.
Escrevo-o, sim, porque me parece ser uma triste verdade.
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Também colei a ver quando mandaste a SMS a alertar, e não fui o único. Também me ri a ver as Conversas como se nunca tivesse visto. E também acho que é uma triste verdade, mas é realmente o que acontece. Também na música é assim, como sabes. É daquelas coisas que a gente vê (ou ouve) e pensa: "Isto é interessante, um dia destes vejo (oiço) com mais calma".
ResponderEliminarNão sei explicar. Deve ser o lado mítico ou lendário da coisa. Mas a verdade é que o António Feio, neste caso concreto, era extremamente consensual e por isso faz-nos falta!
Mas o que realmente guardo dele não são as Conversas nem as conquistas no teatro português - tu sabes, meu irmão: São as dobragens dos desenhos animados!!!! A voz do Feio era inconfundível e é uma das vozes que marcaram bem a nossa infância...
E parece que ninguém se lembra disso... como é possível?
Palavras sábias, meu caro...
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