quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Culpa

Um dia acordas mal disposto. Não sabes bem porquê mas não queres ver ninguém à tua frente. Pretendes ir até à cozinha, comer qualquer coisa rápida, voltar para o teu quarto e fechar-te ali para sempre, sem teres de aturar as tretas d'"os outros".
Sabes que, lá para o fim do dia, como é costume, a má disposição vai passar. Por agora, no entanto, apenas queres fechar-te contigo mesmo.

"Os outros" acordam com um sorriso nos lábios e uma enorme vontade de viver este dia, como se fosse o derradeiro. Querem abraçar a família, os amigos, os conhecidos, dizer-lhes o quanto gostam deles e a importância que cada um tem na sua vida.
Fazem-no e, depois de toda a gente, procuram-te, porque também te amam. Não te encontram. Estás no quarto, fechado em ti. Eles lamentam e vão embora.

Ao fim do dia, já um pouco animado, sais do quarto e vais procurar "os outros". Eles já lá não estão, nem ali, nem em lado nenhum.
Pensas que não gostam de ti, te abandonaram, fazem parte deste enorme complot em forma de sociedade descriminativa e voltas para o teu quarto mais indignado que nunca.

Claro. A culpa é, obviamente, d'"os outros".