terça-feira, 15 de março de 2011

Uma lição em Barcelona

Regresso hoje ao trabalho após uma estada de cerca de 4,5 dias na bela cidade de Barcelona. Numa palavra, adorei. Em duas palavras, adorei mesmo!

Na companhia de uma jornalista de uma conhecida cadeia de informação internacional - que, por sua vez, confirmou ser uma pessoa bastante agradável - visitei praticamente todos os locais mágicos daquela cidade e percebi, in situ, o porquê de Barcelona ser um dos destinos preferidos para aqueles que buscam trabalho além fronteiras. A capital catalã tem um charme próprio, uma essência única que atrai até o mas insensível dos visitantes.

Entre as Ramblas e Montjuic, a Sagrada Família e as outras sensacionais obras de Gaudí, o Parque Guell foi provavelmente a surpresa mais agradável de todas. Um local de sonho, repleto de artistas, músicos, comerciantes, mesclas geracionais e culturais com tanto de intrigante como de encantador. E foi aí, nesse espaço de arte por excelência que, em poucos minutos, assisti a uma cena curiosa: um homem fazia bolas de sabão gigantes e impressionava os que ali passavam. As bolas voavam, voavam e acabavam por rebentar no chão ou na cara dos que assistiam, boquiabertos e que acabavam por se render lançando duas ou três moedas para dentro do prato que o jovem tinha colocado no chão, à sua frente.

A dada altura, chegou ali uma senhora já de idade, de mão dada com a sua neta, uma criança com não mais de 5 aninhos. A neta encaminhou-se, destemida, para junto do artista e decidiu começar a rebentar todas as bolas de sabão que saíam daquela espécie de rede elástica ensopada em líquido verde. Formava-se uma bola e, antes de se soltar no ar, a criança rebentava-a. Outra, e mais outra, e a criança continuava a rebentá-las. Por sua vez, a avó sorria, orgulhosa. O artista não escondia o seu desagrado com aquela situação, mas o que poderia fazer?... A neta rebentou as bolas que quis e, finalmente, quando deu por terminado o seu serviço, voltou para junto da avó e as duas continuaram o seu passeio.

Aí, nessa mescla geracional, vi uma espécie de lição social contemporânea que pode, talvez, explicar um pouco daquilo que se passa nos dias de hoje. A senhora, já de idade avançada e mentalidade estanque, cega de orgulho na sua netinha querida, aprovando tudo o que ela faz; o artista, no auge dos seus trinta, outrora esperançado na arte como forma de vida, hoje impotente e desanimado ao comprovar a existência de pessoas que não compreendem, de maneira alguma, que é naquelas bolas de sabão que está o seu ganha-pão diário; a criança, de inocência inconsciente, continua a fazer aquilo que está errado já que a sua avó, a pessoa que devia apontar-lhe os erros, sorri e aprova, inexplicavelmente, os actos da menina.

1 comentário:

  1. Pois. Eu sei bem o que sentiste. E acrescento que observo cenas semelhantes quase todos os dias. É a (falta de) educação que temos hoje em dia. Mas se pensares bem, é inevitável: antes, havia uma dúzia de netos por família, que tanto ocupavam a vida dos mais velhos que eles nem chegavam a sentir uma ponta de solidão. Mas hoje... É a sociedade que temos.

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